segunda-feira, 13 de junho de 2011

Desculpas

Desculpe-me por me perder,
quando você quis me achar.
Desculpe-me por me esconder,
Quando deveria ir te procurar.
Desculpe-me por eu ser quem eu sou,
e não quem eu deveria ser.
Desculpe-me por te fazer me esperar,
por te enlouquecer.
Desculpe-me por só te deixar olhar,
enquanto eu estou a crescer.
Eu sei que desculpas para quem pede às vezes é muito
e para quem recebe, pouco.
Mas desculpe-me as vezes é só o que eu consigo encontrar.

Amanda Vieira

Não pedir desculpa??? Eu sou a melhor, no entanto...

"Pessoas que são boas em arranjar desculpas raramente são boas em qualquer outra coisa."
Benjamin Franklin

terça-feira, 7 de junho de 2011

A árvore da sombra

A árvore da sombra
tem as folhas nuas
como a própria árvore ao meio-dia
quando se finca à terra
e espera
como um cão espera o regresso do dono.
Nós abrigamo-nos mais tarde ou mesmo agora num lugar
muito distante
onde o tempo recorta
um tapete que esvoaça no papel.
A casa da sombra
é branca e habitada.
Somos nós ainda
sentados ao fogo que o teu sorriso
acende e aconchega
no silêncio que ilumina
a árvore da sombra
para que a noite desenhe
o seu nome visível
e a sombra possa contemplar
os ramos mais belos e o tronco mais esguio
do seu objecto.
Nesta sombra há um imenso amor
ao meio-dia.
A hora dos prodígios
é feita de segundos do tempo que há-de vir
e o horizonte
é a proximidade total da tua boca.

Rosa Alice Branco

domingo, 30 de janeiro de 2011

Bem Sei, Amor, que é Certo o que Receio

Bem sei, Amor, que é certo o que receio;
Mas tu, porque com isso mais te apuras,
De manhoso, mo negas, e mo juras
Nesse teu arco de ouro; e eu te creio.

A mão tenho metida no meu seio,
E não vejo os meus danos às escuras;
Porém porfias tanto e me asseguras,
Que me digo que minto, e que me enleio.

Nem somente consinto neste engano,
Mas inda to agradeço, e a mim me nego
Tudo o que vejo e sinto de meu dano.

Oh poderoso mal a que me entrego!
Que no meio do justo desengano
Me possa inda cegar um moço cego?

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

Jurando de não Mais em Outra Ver-me

Como quando do mar tempestuoso
O marinheiro todo trabalhado,
De um naufrágio cruel saindo a nado,
Só de ouvir falar nele está medroso;

Firme jura que o vê-lo bonançoso
Do seu lar o não tire sossegado;
Mas esquecido já do horror passado,
Dele a fiar se torna cobiçoso;

Assi, Senhora, eu que da tormenta
De vossa vista fujo, por salvar-me,
Jurando de não mais em outra ver-me;

Com a alma que de vós nunca se ausenta,
Me torno, por cobiça de ganhar-me,
Onde estive tão perto de perder-me.

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Pergunto-te Onde se Acha a Minha Vida

Pergunto-te onde se acha a minha vida.
Em que dia fui eu. Que hora existiu formada
de uma verdade minha bem possuída.

Vão-se as minhas perguntas aos depósitos do nada.

E a quem é que pergunto? Em quem penso, iludida
por esperanças hereditárias? E de cada
pergunta minha vai nascendo a sombra imensa
que envolve a posição dos olhos de quem pensa.

Já não sei mais a diferença
de ti, de mim, da coisa perguntada,
do silêncio da coisa irrespondida.

Cecília Meireles, in 'Poemas (1942-1959)

segunda-feira, 28 de abril de 2008

O LOUCO

Perguntais-me como me tornei louco.
Aconteceu assim: um dia, muito tempo antes
de muitos deuses terem nascido,
despertei de um sono profundo e notei que todas
as minhas máscaras tinham sido roubadas
- as sete máscaras que eu havia
confeccionado e usado em sete vidas -
e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando:
"Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"

Homens e mulheres riram de mim e alguns
correram para casa, com medo de mim.

E quando cheguei à praça do mercado,
um garoto trepado no telhado de uma casa gritou:
"É um louco!".

Olhei para cima, pra vê-lo.
O sol beijou pela primeira vez minha face nua.

Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua,
e minha alma inflamou-se de amor pelo sol,
e não desejei mais minhas máscaras.

E, como num transe, gritei:
"Benditos, bendito os ladrões que
roubaram minhas máscaras!"

Assim me tornei louco.

E encontrei tanto liberdade
como segurança em minha loucura:
a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele desigual que nos
compreende escraviza alguma coisa em nós.

Gibran Kahlil Gibran

domingo, 16 de setembro de 2007

Direitos... sem serem questionados


Sabiam que todos os cidadãos, pelo menos os Portugueses têm o direito de recusar ajuda médica? Além de que todos termos direito a uma segunda opinião...
Começando pelo princípio... todos os exames efectuados ao doente pertencem-lhe e têm o direito de ser informados, pelo médico assistente, claro está, sobre os resultados nele constantes... não, não são os familiares.. mas o doente! É preciso que este não esteja em condições de o saber! Quando há consciência pela parte de quem requisita os exames, acho até que os familiares pouco ajudam nesta situação, devem cingir-se ao tal apoio moral!!!
Os doentes têm também o direito, e no meu pensamento, o dever de pedir uma segunda opinião...devem-no fazer, até para poderem descartar algum mau diagnóstico, que vai abundando por aí...
Caso assim o decidam, eles não são obrigados a prolongar a vida por métodos, medicamentosos, cirúrgicos ou clínicos e aqui é que normalmente os familiares costumam fazer errados juízos de valor: o meu familiar está doido, deprimido,etc. por recusar tratamento!
Entendamo-nos, não é por ser uma poupança para o SNSaúde, ninguém pode ser obrigado a tratar-se! Pode não ser nenhuma patologia psiquiátrica o recusar tratamento. No meu entender, excluindo loucura, duas coisas podem ser a causa:
1ª O doente conhecer aquilo que vai passar e não o querer... Normalmente são doentes que conhecem os meios de tratamento, ou por já terem passado por eles ou alguém próximo ou até pelo trabalho que têm ou tiveram... Estão a par das estatísticas e das consequências, mais ou menos dolorosas do processo e recusam-no!
2ª Por acharem que a natureza tem razão e deve seguir o seu curso... para quê alterar o curso natural das coisas? Nos outros animais, normalmente o filho rejeitado tem malformações... Para quê alterar aquilo que a natureza insiste em fazer ou dizer?
Pode ainda ser uma combinação das duas!!!
Em todos os casos, é uma decisão que deve ser muito pensada e reflectida... Não é suicídio, nem deve ser confundido como tal! Deve ser respeitado por todos os cidadãos e não se deve fazer juízos de valor ou tentativa de os descredibilizar!
Porque é que sempre que um indivíduo tem alguma doença deve ir a correr tratar-se, muitas vezes tapando os pés e descobrindo a cabeça, sem grandes esperanças de cura e sobretudo com um sofrimento inerente que não lhe trás qualidade de vida? Se algum indivíduo é por demais independente para quê depender daqueles que muitas vezes lhe escondem o real estado das coisas, ou então inventam argumentos para não os assumir?
Não minto se disser que aqui em Portugal o normal é os familiares ficarem com peninha e andarem a esconder a real gravidade das coisas... esquecem-se que os doentes não são acéfalos e lêem nos olhares mais ou menos compungidos a mentira!
Todos temos o direito à vida... e todos podemos dizer NÃO! Não é muito habitual, mas é um direito! E como tal deve ser respeitado!

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Solidão...

"Solidão não é a falta de gente para conversar,
namorar, passear ou fazer sexo...
Isto é carência!
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência
de entes queridos que não podem mais voltar...
Isto é saudade!
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe,
às vezes para realinhar os pensamentos...
Isto é equilíbrio!
Solidão não é o claustro involuntário que o destino
nos impõe compulsoriamente...
Isto é um princípio da natureza!
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...
Isto é circunstância!
Solidão é muito mais do que isto...
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos
e procuramos em vão pela nossa alma."

Fátima Irene Pinto


(para quem ande à procura de definições...)
Beijo